Norton de Matos e o Milagre de Tancos: Entre o Mito e a Realidade

Autores

  • Helena Pinto Janeiro

Resumo

A consagração do ministro Norton de Matos como o principal obreiro do ‘milagre de Tancos’ que possibilitou que dezenas de milhares de portugueses fossem combater em França durante a I Guerra Mundial, nada teve de acidental. Neste artigo, começaremos por analisar as estratégias de relações públicas e propaganda do ministério da Guerra para promover a imagem da operação de treino militar no polígono militar de Tancos, recorrendo ao cinema, à fotografia e à escrita, usando recursos humanos militares e controlando, de várias formas, os recursos humanos civis, nomeadamente os jornalistas. Controlo que passava por um apertado exercício da censura prévia mas que não esquecia a sedução. De seguida, discutiremos o outro lado da moeda: como a imprensa se posiciona face às notícias e reportagens da preparação militar portuguesa em Tancos. Escolhemos, pelo seu significado simbólico, o caso da cobertura jornalística da parada realizada nos campos de Montalvo a 22 de Julho de 1916. Ironicamente, veremos como o incidente mais significativo entre a imprensa e o governo durante a preparação militar em Tancos ocorrerá precisamente no âmbito desta que foi a maior operação de relações públicas e propaganda jamais organizada pelo exército em Portugal. Veremos como aquele episódio, que levou a um protesto formal da Associação de Classe dos Trabalhadores da Imprensa de Lisboa, não impediu que os enviados especiais da imprensa portuguesa à parada das tropas treinadas em Tancos escrevessem peças em que a reportagem jornalística ia a par da mais pura propaganda patriótica. Nem por isso a opinião pública portuguesa foi conquistada para a causa da guerra, como a correspondência interceptada pela censura no Verão quente de 1916 bem revela, numa demonstração cabal da distância que vai do mito à realidade.

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Publicado

2018-03-14

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